A NECESSIDADE DA RESPONSABILIDADE SOCIAL

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Por: Izabel Durynek

O Conselho Nacional de Justiça e o Supremo Tribunal Federal lançaram em 2009, o programa “Começar de Novo”, que busca sensibilizar a população para a necessidade de reinserir no mercado de trabalho e na sociedade, presos que já cumpriram suas penas. O empresário Nabi Gouveia há anos vem trabalhando com um sistema parecido, dando oportunidade a presidiários em regime aberto e semi-aberto. Pessoas que mesmo tendo cometido algum ato ilícito têm a oportunidade de serem introduzidas na sociedade novamente. Seres humanos que têm direitos e deveres.

Izabel – O que o levou a aderir a este sistema?
Nabi Gouveia – Sou integrante do Rotary Internacional – RC de Uberaba Norte e um de nossos objetivos é a valorização do ser humano. Em reuniões com companheiros, discutindo o tema, lembramos que praticamente todos os órgãos públicos e ONGs que fazem trabalho comunitário assistencial, estão voltados a menores carentes, idosos e famílias. Notei que não faziam parte da lista, os presidiários e que se fazia necessário o apoio da comunidade também a eles.

Izabel – Os presidiários precisam do apoio da sociedade. Por quê?
Nabi Gouveia – São seres humanos. Como todos, amam, odeiam, e que cometeram erros, mas todos nós somos passiveis de erros também. Qualquer um de nós, dependendo da circunstância, está sujeito a matar.

Izabel – Quais foram as criticas feita por amigos e empresários?
Nabi Gouveia – Algumas pessoas ficaram chocadas. Fui chamado de doido.

Izabel – Diga com que tu andas que eu ti direi quem és. Teve medo que os detentos influenciassem os funcionários?
Nabi Gouveia – O ser humano é vulnerável. Presidiários ou não, quando exposto às oportunidades e necessidades pode ocorrer as surpresas. Nesse sentido é feito dentro da empresa, um trabalho voltado para a conscientização dos problemas causados pelas drogas, DSTs e saúde do trabalhador. Entendemos como dever de qualquer empresa, esse trabalho que no nosso caso, se estende também aos detentos.

Izabel – Você acredita na recuperação deles?
Nabi Gouveia – Sim. Todos os envolvidos nesta parceria estão empenhados nisto. Até porque em muitos casos não se trata de recuperação e sim de reintegração na comunidade.

Izabel – Existem casos de pessoas que não se adequaram aos resultados propostos pela parceria?
Nabi Gouveia – Sim. Como tudo na vida, alguns resultados não são como se espera. Os casos de usuários de drogas, por exemplo, entendemos que é muito mais um caso de doença que de crime. Daí a necessidade de o cidadão ser tratado e não aprisionado como ocorre hoje. A interpretação do sistema penal ainda hoje é pela cadeia, porém entendemos que a recuperação seria mais viável via tratamento.

Izabel – Para você o que significa a palavra perdão?
Nabi Gouveia – Perdão é algo muito especial e muito pessoal. A gente desculpa, compreende, mas perdão quem dá é Deus. É por isso que existe lei, pena e prisão.

Izabel – O Brasil está preparado para recuperar nossos detentos?
Nabi Gouveia – A sociedade se prepara para enfrentar a situação de uma forma muito triste. O mercado de equipamentos de segurança domiciliar cresce numa velocidade assustadora e o crime também. E nós enquanto cidadãos, estamos nos preocupando em melhorar a nossa segurança enquanto são ineficazes os mecanismos de conter a criminalidade.

Izabel – O que você diria sobre o preconceito9 da sociedade em relação ao presidiário?
Nabi Gouveia – Um engano existe por razões diversas, mas precisamos enfrentar. O preso de hoje poderá ser nosso vizinho amanhã ou ter um filho que estudará na mesma escola que os nossos filhos. São seres humanos.

Izabel – Para finalizar o que você falaria a sociedade ou aos empresários?
Nabi Gouveia – Não só ao empresário para aderir ao sistema ou a sociedade par que não tenha preconceito, mas todo ser humano deveria preocupar-se com a melhoria do próximo. Devemos atrair a juventude para o bem. Hoje um jovem de 16 anos, na prática está impedido de trabalhar formalmente, mas uma criança de oito anos trabalha para o tráfico normalmente. O que está errado? É o momento de a sociedade refletir. O legislador faz a lei a partir dos anseios da sociedade. Precisamos direcionar os nossos jovens. Eles têm as suas necessidades e carências. E entre elas está o trabalho. Manter o nosso jovem fora do mercado é um grande risco.

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